... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...
Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano IV Número 44 - Agosto 2012

Crônica - Cesar Cruz

Fish Watching

O Hugo pegou um Peixinho...

Apanhei minha filha na escola e fui dirigindo pra casa. De repente, sem preâmbulo algum, ela lá da sua cadeirinha me solta a intrigante frase que dá nome a esta crônica. Olhei pelo retrovisor e ela agora observava a paisagem, como quem fez apenas um comentário sem importância, desses que fazemos quase que pra gente mesmo, pensando alto: “Amanhã tenho consulta...”, ou qualquer dessas coisas do dia-a-dia que, quando escapam do pensamento da gente e ganham som na nossa voz, não são para serem postas à prova por quem quer que seja, são só para se ouvir e esquecer.

Ainda assim, diante da transitividade da frase, indaguei-a para ver se descobria o enigmático complemento daquele predicativo:

“Filha, o Hugo pegou um peixe e fez o quê?”.

Talvez ela até tenha me respondido, mas se fez confesso que me distraí e não ouvi, ou talvez eu tenha inconscientemente descartado a questão de antemão, acreditando que poderiam ser personagens de algum desenho, talvez um desenho chamado “Hugo e o Peixinho”, já que aos 4 anos as crianças vivem em um mundo que mistura o lúdico com o real. E eu, como sou dono de uma sólida ignorância para desenhos animados, acabei que me esqueci do assunto.

E uns vinte dias se passaram depois daquilo...

O amigo leitor veja como nossa negligência às vezes pode custar vidas, como de fato custou. Se eu tivesse dado a devida importância ao que tentou me alertar a Michele naquele dia, poderia ter evitado um dos maiores peixecídios (Genocídio de peixes) que já se teve notícia no bairro do Cambuci.

Sexta última, a Vanessa me disse: “Você nem sabe! Hoje quando fui pegar a Michele havia uns funcionários montando uma cerca em volta daquele laguinho que fica ao lado da recepção da escola”.

“Ué, pra quê?” - perguntei.

“Pras crianças não se aproximarem mais. Você acredita que um amiguinho da Michele, o Hugo, quando nenhuma professora estava olhando, se agachava ali, pegava um peixinho e guardava na mochila? Parece que ele pegou mais de 15 peixinhos nos últimos dias! E em casa, escondido da mãe, ele guardava os peixinhos bem quentinhos dentro de uma gaveta”.

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